terça-feira, 19 de julho de 2011

Um Deus que sorri.

Eu acredito em Deus. 
Mas não sei se o Deus em que eu acredito é o mesmo Deus em que acredita o balconista, a professora, o porteiro. 
O Deus em que acredito não foi globalizado.
O Deus com quem converso não é uma pessoa, não é pai de ninguém. 
É uma ideia, uma energia, uma eminência. 
Não tem rosto, portanto não tem barba. 
Não caminha, portanto não carrega um cajado. 
Não está cansado, portanto não tem trono.
O Deus que me acompanha não é bíblico. 
Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos, algumas parábolas e um pensamento que não se renova. 
O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros, mas sua superioridade está na compreensão das diferenças, na aceitação das fraquezas e no estímulo à felicidade.
O Deus em que acredito me ensina a guerrear conforme as armas que tenho e detecta em mim a honestidade dos atos. 
Não distribui culpas a granel: as minhas são umas, as do vizinho são outras, e nossa penitência é a reflexão. 
Ave Maria, Pai Nosso, isso qualquer um decora sem saber o que está dizendo. 
Para o Deus em que acredito só vale o que se está sentindo.
O Deus em que acredito não condena o prazer. Se ele não tem controle sobre enchentes e violência, se não tem controle sobre traficantes, corruptos e vigaristas, se não tem controle sobre a miséria, o câncer e as mágoas, então que Deus seria ele se ainda por cima condenasse o que nos resta: o lúdico, o sensorial, a libido que nasce com toda criança e se desenvolve livre, se assim o permitirem? 
O Deus em que acredito não é tão bonzinho: me castiga e me deixa uns tempos sozinha. 
Não me abandona, mas me exige mais do que uma visita à igreja, uma flexão de joelhos e uma doação aos pobres: cobra caro pelos meus erros e não aceita promessas performáticas, como carregar uma cruz gigante nos ombros. 
A cruz pesa onde tem que pesar: dentro. É onde tudo acontece e tudo se resolve.
Este é o Deus que me acompanha. 
Um Deus simples. 
Deus que é Deus não precisa ser difícil e distante, sabe-tudo e vê-tudo. 
Meu Deus é discreto e otimista. Não se esconde, ao contrário, aparece principalmente nas horas boas para incentivar, para me fazer sentir o quanto vale um pequeno momento grandioso: um abraço numa amiga, uma música na hora certa, um silêncio. 
É onipresente, mas não onipotente. 
Meu Deus é humilde. 
Não posso imaginar um Deus repressor e um Deus que não sorri. 
Quem não te sorri não é cúmplice.

Martha Medeiros

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