segunda-feira, 30 de maio de 2011

E assim consigo dormir mais um dia, passar mais um dia,


viver mais algumas horas, sem ligar pra única pessoa que eu queria ligar. Consigo seguir em frente mais um dia sem ligar pra ele. Consigo distrair meus dedos, minha mente, meu peito, minha violência, meu buraco, minha vertigem, meu soco no estômago, meu desespero, meu automático, meu extinto contrário, minha curiosidade infantil mas sempre com resultados duros demais para uma criança, minha vontade de enfiar o dedo na tomada só pra sentir a descarga mortal que tanto parece com impulso de vida. Consigo distrair os batimentos cardíacos que sinto em lugares do meu corpo que ainda queriam mais um toque dele. E partes da minha pele que saem buscando porque ainda não receberam a informação do fim, o sangue ainda não levou a má notícia para meu corpo todo. E consigo distrair minhas roupas, que querem se mostrar, cada dia uma diferente, para ele. Só para ele. E distrair meus ouvidos loucos pela sua voz. E distrair meus pés loucos pra encaixar atrás da sua batata da perna. E distrair minha língua, querendo decodificar e marcar cada centímetro das suas estranhezas. E distrair a crença cansada, a saudade renegada. Distrair essa sobrinha de você que continua enorme, mesmo sendo, agora, uma sobrinha. Quando eu iria superar você?

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